Por Ana Lucia Santana |
Na capital francesa Maria Clara foi discípula do mímico Decroux, do diretor Jean-Louis Barrault e do dançarino e coreógrafo Rudolf Laban, desenvolvendo assim suas inclinações para a dança e o teatro. Após um ano ela retorna ao Brasil e atua por algum tempo como enfermeira.
Seu dom para trabalhar com crianças a levou a criar, em 1951, depois de uma tentativa fracassada no Patronato da Gávea, onde trabalhava, um grupo de amadores, com o objetivo de representar peças para a comunidade local sem ter que recorrer aos habitantes do bairro. Nasce assim o Teatro Tablado.
A partir daí a artista não parou mais de criar, concebendo assim mais de 25 peças, entre elas: O cavalinho azul; A bruxinha que era boa; e A menina e o vento. Outra história que conquistou o público infantil com uma interpretação distinta da tradicional é O Chapeuzinho Vermelho, de 1956, que apresenta um lobo simultaneamente mau e covarde, uma vovó serelepe e árvores animadas.
Em A bruxinha que era boa, de 1958, Maria Clara discorre sobre a liberdade. Já em 1960 nasce outra de suas obras-primas, O Cavalinho Azul, que mostra um garoto que navega pelo Planeta à procura de um cavalo completamente azul. Na década de 50 ela tanto encena quanto interpreta peças para adultos, em trabalhos como A Sapateira Prodigiosa, do espanhol Federico García Lorca, de 1953, também encenado por ela.
Nos anos 60 cria-se em torno do Tablado um círculo de fãs infantis e adultos, sempre à espera de seu próximo trabalho. Ela continua igualmente a interpretar e encenar. Na década de 70 Maria Clara conquista o prêmio Personalidade da editora Global e suas criações são vertidas para outros idiomas e representados em diversos países, entre eles a Alemanha e os EUA. Na vertente teatral para adultos ela escolhe a escola realista de Gorki e Tchekhov.
Nos anos 80 as peças O Dragão Verde, de 1984, e O Gato de Botas, de 1987, lhe conferem o Prêmio Mambembe de melhor autora. Em 1983 é a vez do Tablado ser homenageado com o Prêmio Molière de incentivo ao teatro infantil. No teatro adulto ela interpreta a protagonista de Ensina-me a Viver, em 1981, no lugar da atriz Henriette Morineau. No cinema Maria Clara representa “a velha que viu” no filme O cavalinho azul, inspirado em sua obra e dirigido por Eduardo Escorel em 1984.
Na década de 90 a artista confere a encenação de seus trabalhos ao diretor Cacá Mourthé. Sua derradeira criação teatral foi elaborada em 2000, Jonas e a baleia. Nesta peça Maria Clara faz uma nova versão da narrativa bíblica ao lado de Cacá Mourthé. No dia 30 de abril de 2001 ela morre aos oitenta anos, vítima do linfoma de Hodgkin, uma espécie rara de câncer que afeta o sistema imunológico.
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